José Calasans por Claude Santos PÁGINA PRINCIPAL | VOLTAR estante

João de Régis e José Calasans
breve história de uma fotografia

Era uma sexta-feira de junho de 1998, quando chegamos na casa de João de Régis, nas Umburanas, em Canudos. Fomos para lá acompanhando José Calasans que no dia anterior tinha recebido o título de Cidadão da Cidade de Euclides da Cunha e queria conhecer João, filho de sobreviventes da Guerra.

Nos acomodamos na sala. Nas paredes, imagens de Jesus e Maria, folhinhas de casas comerciais e pássaros em porcelana. Aqui e ali, entre perguntas e respostas sobre a tragédia sertaneja, um papagaio se intrometia na conversa. Certamente, também descendia de testemunhas da peleja.

João, 91 anos, trabalhara como tropeiro, mercador, vaqueiro, garimpeiro em minas de cristal e ouvira da mãe muitas histórias sobre o sangrento episódio. José, completando 83, ouviu pela primeira vez a palavra Sertão quando era menino, através de um poema de Tobias Barreto recitado por uma senhora em Aracaju, sua terra natal. Formara-se em Direito, mas, desde rapaz, se dedicou à oralidade popular e era o principal estudioso daquele tema posto na mesa, misturado a copos de licor servidos por Duru, filha do anfitrião.

A conversa se alongou por quase uma hora. Depois, pedi a João e José para retratá-los na cozinha. Fomos até lá. E a lente registrou luzes entrando pelas portas e frestas do telhado, panelas, um vaso com flores artificiais e os personagens, dois homens que buscaram obstinadamente preservar a memória de uma tragédia. Dois homens e suas histórias, entrelaçadas no silêncio de uma fotografia.

Sertão de Canudos, 1998.