José Calasans por Fernando da Rocha Peres PÁGINA PRINCIPAL | VOLTAR estante

José Calasans

A Universidade, a nossa Ufba, uma casa pública, muito deve a José Calasans. Não vamos traçar o seu perfil, fazer o seu elogio, um discurso, neste momento de ausência, de falta. Calasans, certamente, gostaria de ler e ouvir sempre acentuada a sua ligação muito forte com os seus estudos, as suas pesquisas, o seu pioneirismo em alguns temas, a sua dedicação ao ensino na cátedra e aos alunos. Aí é que aconteceu o seu lugar universitário. Aí decorreu sua vida.

Na sua carreira, Calasans teve um gesto, como poucos tiveram, ao doar sua biblioteca, seus papéis, suas fontes, para a Ufba, tudo como ficou e está guardado no Centro de Estudos Baianos, no Núcleo Sertão, e serve de manancial, nada seco, para estudiosos, brasileiros e estrangeiros, sobre Canudos, Antônio Conselheiro, jagunços, vida agreste, milenarismo.

O conjunto dos estudos de Calasans, seus trabalhos e textos publicados, têm um direcionamento para a História, Antropologia e o Folclore, destacadamente na saga do sertão e da guerra de canudos. Este tema e assunto foi uma constante no universo dos interesses de Calasans, sabedor como poucos da grande tragédia nordestina, seus personagens, e palmilhador dos Sertões de Euclides da Cunha.

De Calasans quero destacar três textos considerados referenciais e "fontes abertas" para outros trabalhos acadêmicos, com uma abordagem inédita e criativa, dentro de sua obra mais vasta: Fernão Cabral de Ataíde e A Santidade de Jaguaripe (Bahia, S.A. Artes Gráficas, 1952); Cachaça, Moça Branca (Salvador, Livraria Progresso Editora, 1951); e Quase Biografias de Jagunços - O Séquito de Antônio Conselheiro (Salvador, CEB/UFBA, nº122, 1982).

É claro que tenho a tentação de ampliar este meu artigo sobre Calasans, a minha homenagem a um mestre e colega, mas devo limitar-me a dizer da enorme falta que ele faz para os seus familiares, aos seus amigos da Bahia, a terra de adoção, e de Sergipe, seu chão de nascença, da sua ausência, para sempre, da Ufba, do Núcleo Sertão, da ALB, do IGHB, e da paisagem humana e intelectual de Salvador e Aracaju.

No CEB, talvez ainda este ano, vamos participar das comemorações dos 100 anos dos Sertões, com a publicação de um manuscrito que foi "encontrado" nos destroços de Canudos ("o livro de mão" de Antônio Conselheiro, com trechos da Bíblia e de Preceitos). Esta será uma maneira de homenagear também José Calasans Brandão da Silva.

Agora vou parar, pois quem muito escreve fica rebarbativo, chato, vazio ou acaciano; tudo aquilo que Calasans não foi, pois a sua escrita distingue-se pela precisão, e a sua fala possuía um toque inesgotável de sabedoria e verve.

Texto publicado no jornal A Tarde de 30 de junho de 2001.Fernando da Rocha Peres é escritor, membro da Academia de Letras da Bahia e professor da Universidade Federal da Bahia.